Controle dos afetos...
No último post falamos sobre o conflito que é a razão e a emoção, pensamentos pulsantes nos conflitos humanos. Este é um daqueles assuntos que dá pano pra manga e conforme as dúvidas ou suas variantes forem surgindo gosto de procurar postar a respeito de assuntos relacionados.
Conversando com pessoas de opiniões claras pude perceber que as decisões mais certas são tomadas pela intuição. A intuição nada mais é que o bom senso entre a razão e a emoção. Pela emoção nos sentimos impulsionados a uma ação que pela avaliação racional julgamos ser certa ou não. A intuição fica, então, com a tomada de decisão frente a avaliação feita. Achei sensata essa colocação mas creio que nem sempre podemos agir por intuição, porque naturalmente ela não é certeira, apesar de sentir que ela é um equílibrio saudável para tomar boas decisões sem deixar de lado a questão afetiva.
Até porque ninguém vive sozinho, 'nenhum homem é uma ilha'. Se mover pela razão faz com que percamos aportunidades valiosas de construções afetivas, de conhecer pessoas que realmente possam valer apena em nossa caminhada. No entanto se entregar às emoções podem ser extremamente prejudicial, principalmente em pessoas que tem uma vida afetiva e psicológica abalada por diversos fatores.
Quando nos interessamos por alguém, por exemplo, o nosso cérebro não assimila as emoções ou sensações que esta pessoa nos traz. Ele avalia apenas o resultado de tudo isso. Se o custo é menor que o benefício então isso significa que vale a pena investir num relacionamento. A parte sensível, nossa alma associada ao psique, avalia as características pessoais do pretendente, nos traz sensações de bem estar, apreensão e desperta os afetos que podemos cultivar ou não, que serão avaliados pela razão como custos ou benefícios. Razão e emoção funcionam, portanto, como uma ótima feramenta de avaliação e contruções pessoais, de relacionamentos e afetivas.
Mas quando avaliamos uma determinada emoção como prejudicial o jeito melhor, porém não mais simples, é se livrar dela. Nós, seres humanos, somos seres complexos em nossa psique e emoções mas totalmente previsivéis em nossas ações. Quando nos sentimos rejeitados, por exemplo, é normal nós sentimos tristes, inferiorizados, culpados e posteriomente com raiva da ação ou da pessoa que nos causou tal sentimentos. Depois, aos poucos, voltamos as nosso estado normal e vemos a pessoa que nos rejeitou com certo ar de indiferença... o que muda de pessoa para pessoa é apenas a velocidade e intensidade com que essas sucessões de sentimentos e percepções acontecem.
Eu tenho um nome engraçado para o controle de afetos que considero prejudiciais para meu convívio, o chamo 'método do sapo'. É assim nomeado porque nada mais é do que a descontrução de um sentimento que você pensava ser tudo. Se para construir um príncipe encantado, que álias nunca existiu, exaltamos suas qualidades, para reconduzi-lo a condição de sapo descontruímos essa imagem fantasiada, racionalizamos e avaliamos criticamente a situação como ela de fato é. Fiquei feliz por descobrir recentemente que uma filósofa de nome estranho aplica isso em teoria o que eu comentava comumente como um método maluco entre minhas amigas.
É preciso controlar as forças interiores do ser humano. Em Aurora (1887), Nietzche enumera seis pequenas estratégias ascetas de combate aos afetos:
1- deixar os desejos se enfraquecerem através da sua não satisfação por longos períodos de tempo;
2- impor uma regulamentação estrita para a satisfação dos impulsos até que eles não pertubem mais;
3- intencionalmente, buscar a saturação de prazer até que surja em nós uma náusea em relação ao objeto de desejo;
4- associar metodicamente ao desejo pensamentos torturantes de pecado, culpa ou vergonha;
5- deslocar forças do corpo para outras direções, para o trabalho ou estudo, por exemplo;
6- enfraquecer ou deixar adoecer o corpo. (op. cit., Livro II, pg 109)
Para Nietzsche, as técnicas de disciplina das paixões não são uma prova da superioridade da mente sobre o corpo. Trata-se de um embate de forças antagônicas no próprio corpo; uma luta entre desejos diferentes, muitas vezes inconscientes. Não existe luta entre o corpo e algo fora dele, mas sim entre diferentes forças dentro do próprio corpo.
ps: não recomendo que se chegue ao 6º passo.
Diante disto vemos que o embate entre a razão e emoção pode ser difícil, e se não tratada de forma adulta, pode ser desconcertante e até mesmo destrutiva para o ser humano. Nestas horas devemos valer da intuição, do que devemos escolher diante disto, se é preciso ou não o controle dos afetos ou deixar um pouco de lado a questão racional.
O homem que conhece a si mesmo consegue dominar, pelo menos em partes, seus afetos. Se não o domina ao menos os conhece. Procuremos nos conhecer, nos avaliar e ter o bom senso de tomar decisões corretas, decisões que não nos desconcerte ou não destrua os afetos alheios. Somos uma rede de relações, muito do que fazemos afeta os outros. Então não devemos ser individualistas, uma vez adotada uma postura ela afeta nosso forma de agir e de ver as outras pessoas. Elas também percebem isto e reagem de forma aberta ou defensiva. Tomemos decisões que não desconcerte o crescimento pessoal dos outros que passam por nós. Controlemos aquilo que nos é prujudicial mas não nos fechemos em pensamentos mesquinhos e egoístas, nem mesmo nós merecemos isto.
Acho que termino aqui, espero que estejam gostando destes meus pensamentos malucos... rsrsrsrs... um grande abraço da Pequenininha...
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