Não sirvo para relacionamentos

“Sua filha terá dificuldades de entrar em relacionamentos”; disse a psicóloga à minha mãe quando eu tinha de 9 a 10 anos de idade e sofria de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), insônia, e paralisia temporária dos membros inferiores por questões psicossomáticas. Acho legal essa coisa de ser psicólogo. Eles foram disciplinados a desvendarem os segredos de nossa mente de forma que talvez nem nós conseguíssemos desvendar naquele momento. Hoje é engraçado notar a ‘profecia psicológica’ se cumprindo!

Na verdade eu tenho muitos medos, e talvez eu seja sensível e não queira demonstrar esse meu ‘lado mais fraco’. Eu cresci em um lar onde relacionamento parecia ser uma coisa que não dava certo e, por consequência, é natural que eu seja temerosa em querer algo do tipo. Me auto disciplinei na dor dessas experiências, me fiz forte para não me abater e hoje sou forte por ter sobrevivido a tudo. Mas, apesar de às vezes ter o anseio de alguém ao lado, me questiono se minha construção de vida me levaria a ser capaz de amar verdadeiramente, um dia, alguém.

O último carinha que gostei de verdade foi há uns 3 anos atrás. Eu tinha medo de mostrar que eu gostava dele e que isso o fizesse se afastar de mim, então reprimia o que sentia. Porém essa intensidade, do sentimento e da repressão e da luta contra mim mesma, fez com que uma série de reações psicossomáticas aparecessem (intestino preso, queda de pressão, falta de ar, coração hiper acelerado...). Não, isso não era lindo! Por mais que fossem reações consideráveis normais para uma pessoa apaixonada, eu extrapolava essas razões. Não era o amor que me fazia ter esse quadro sintomatológico intenso, mas sim o medo de algo que eu não conseguia dominar; algo maior que eu e que me causava constante medo e insegurança.

No meu primeiro relacionamento eu não conseguia comer na frente do menino direito porque tremia muito e sentia incontrolável sensação de frio, provavelmente por queda de pressão. Minha barriga doía em uma mistura de ansiedade pela nova experiência vivida, concomitante com um terrível final de semestre na faculdade. Não era amor, mas era o medo de amar e de saber se você estava no caminho certo ou não, já que aquilo sempre lhe foi estranho. Eu queria agradar, mas não sabia como devia ser esta entrega. Então eu parti do princípio ‘receba amor para dar amor e se feche quando o mesmo for recíproco’, em um jogo de troca para não arriscar demais no empreendimento.

Às vezes sinto que não consigo amar, ou pelo menos tenho receio de sair desse joguinho de moeda de troca. O amor não é altruísmo, mas é decisão! Muitas vezes você tem que estar disposta a renunciar, a dar mais que receber, a sofrer, e sofrer muito, por aquele que se ama. É algo muito nobre, mas eu não fui educada nesta nobreza e fica difícil saber se ainda conseguirei aprender sem uma experiência válida.

De qualquer forma, acho que agiria como aquele ditado que diz ‘água mole em pedra dura tanto bate até que fura’. Mesmo que o desejo de amar esteja presente, creio que talvez seja a insistência do outro em mim que me fará confiar e realmente capaz de me envolver. Só quando alguém for capaz de realmente investir em mim e ver que essa ‘casca grossa’ vale a pena é que talvez eu deixe de lado esse amor inseguro, negociável, por algo maduro e próprio de uma verdadeira relação.

De uma menina que tem medo de voltar a ter terríveis reações psicossomáticas, abandonadas, graças a Deus, há certo tempo.

Bjus… A Pequenininha

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