A aposta

aposta sorte

“Você sempre surpreende e eu tento entender/ Você nunca se arrepende, você gosta e sente até prazer.” Fogo _ Capital Inicial

Discutíamos sobre o por quê de sempre vivermos sozinhas. Por que, ao contrário da maioria das meninas, ficávamos tanto tempo sem ficar com ninguém. Era um anseio ter alguém ao lado, nem que seja por um breve momento; para descongelar nosso coração, para nos dar algum tipo de consolo e sanar algum tipo de carência. Passamos então a levantar hipóteses.

Entre as principais ideias levantadas, discutíamos sobre o fato de termos uma imagem tão certinha, que talvez pudesse impedir muitas vezes um cara de chegar à gente. Outra ideia era de que talvez fossemos mulheres fechadas aos homens, devidos aos nossos medos e preceitos mais conservadores, que poderiam atrapalhar para que algo acontecesse. Talvez faltasse abertura até, e principalmente, da nossa parte. E se fossemos pessoas mais abertas? E se não ficássemos tão encucadas em simplesmente beijar um cara? Essas atitudes funcionariam?

Longas conversas e, após muitas delas, uma proposta surgiu. ‘Vamos ficar com o primeiro cara que chegar na gente!’ Claro que fiquei temerosa, nunca tinha feito algo do tipo. Mas a resposta das outras amigas foi imediata: ‘Vamos!’. Pensei comigo ‘por que não’, mas ainda muito receosa. Porém não fugi do pacto, do acordo estabelecido comigo mesma e minhas amigas. Tudo não passava de uma brincadeira, mas que poderia dar certo.

E a aposta parecia realmente funcionar, pois minha amiga, três dias após, cumpriu com o seu combinado! Faltavam só duas agora! Naquele momento eu não tinha ninguém em mente, ninguém em meu coração, mas coração e mente estavam preparados para receber algo que não tardaria a vir. Eu sentia isso e a aposta me encorajou, e foi o que realmente aconteceu.

Eu conversava com um menino, mas sempre como amigos. Não havia sentimento, não havia intenção, pelo menos não da minha parte. Mas ele era gente boa e fui notando certo interesse da sua parte nas conversas, sempre agradáveis, pela internet. Dez dias após o combinado com as meninas e ele apareceu em casa, ouviu minhas confidências (tinha facilidade para me abrir com ele), e ali foram horas de conversa. Na hora da despedida eis que ele se aproxima, seus olhos se fecham e, puts grila, ele vai me beijar! ‘Ai, o que eu faço, vou ou não vou?’ Não tive muito tempo pra pensar, fui, e durante o beijo pensei por um breve momento ‘cumpri o trato!’. Isso não me aliviou, na verdade foi preocupante porque eu não sabia se eu estava ali porque achava ele legal ou porque eu tinha algo a cumprir. De qualquer forma eu estava aproveitando o momento, então deixei rolar.

Acho que eu ficaria com ele independente do trato, ele era um amigo especial e muito gente boa, mas não posso negar que o acordo favoreceu para que isso acontecesse, pois me encorajou a dizer sim. Os encontros prosseguiram e não havia mais aposta, pois ela já havia sido cumprida, mas eu de forma alguma poderia confessar o start da situação. Foi bom e acabou. Nossas hipóteses pareciam estar certas e comprovadas ao nosso favor.

O término foi ameno, porém não muito legal. Uma vez eu escutei um ‘Às vezes penso que você não vai ter maturidade pra aceitar, pra seguir… Se protege me culpando. O que aconteceu entre nós acabou!’ E minha vontade era de abrir o meu peito e dizer num ímpeto de fúria: ‘Seu filho da mãe, eu fiquei com você por motivação de uma aposta! Pare de se achar, pare de pensar que surgiu amor, que eu estou morrendo por você, isso é ridículo!’ Tantas vezes treinei essa frase em minha mente nas minhas crises de raiva! Mas me calei e, como tudo na vida, até isso passou. O que era amizade tornou-se uma ficada, e depois um momento de fúria, e depois se acalmou e se transformou em um poço de indiferença com tão somente lembranças.

Se me arrependo? Claro que não! Eu aprendo tentando e nunca aprendi tanto após o momento em que aceitei o trato, que poderia vir com seus benefícios e ônus. Apesar do aprendizado não estar ligado necessariamente a ele, minhas vivências posteriores fizeram de mim uma pessoa que hoje se arrisca mais, que é mais solta, mais determinada, uma pessoa que não tem medo de ir atrás do que quer. Não me julguem como a garota que usou um garoto para provar que estava certa em suas convicções. Eu não sou tão má e ninguém saiu ganhando e nem perdendo demais nesta história. Foi uma experiência válida, sincera, e eterna enquanto durou.

Não continuo fazendo apostas, pois não necessito mais disto. Não fico estressando tanto com o que acontece ou deixa de acontecer. Eu só deixo que aconteça, segundo a ordem natural das coisas, e assim procuro me estabelecer favoravelmente neste fluxo da vida. Ainda espero ter muitas alegrias e conquistas, mesmo que inevitavelmente também apareçam tristezas e decepções. Para isto, o bom mesmo é parar de viver de hipocrisia, assumir o que se quer e sente, e ir a busca de suas metas.

De uma menina que prefere não brincar com o destino.

Bjus… A Pequenininha.

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