Expressão da alma...

"Queria exprimir meus desejos às pessoas que os deviam satisfazer e não podia, porque os desejos estavam dentro e elas fora, sem poderem penetrar-me na alma com nenhum dos sentidos (Santo Agostinho - Confissões)."

Como é difícil muitas vezes expressar o que sentimos. Existem momentos em que palavras não bastam, ou não existem um jeito certo para serem exprimidas; o gesto não é tão profundo, o consolo não chega na sua real intenção. Mesmo assim temos o contínuo desejo de extravasar nossas necessidades, expressar o nosso âmago de forma real e intensa tal como ele é. Mas como nos expor sem se fragilizar? Qual a maneira mais coerente de nos expresarmos e de entendermos as pessoas que nos rodeiam?

Cada um encontra uma maneira particular de demonstrar quem é. Pela análise da conversa, seu estilo de vida, gostos musicais, etc; conseguimos captar um pouco das pessoas ao nosso redor ao ponto de dizermos que a conhecermos. Porém, isso funciona em caráter muito superficial e não nos basta quando queremos buscar mais a fundo saber quem é o outro ou quando queremos mostrar o que sentimos. Muitas vezes o coração parece pequeno para tanta coisa e mais do que tudo temos a necessidade de manifestar tudo isso para o mundo, fazer-se notado, manifestar nossa vontade de ser acolhido ou compreendido por alguém. Mas é engraçado como tudo nos parece ser tão intenso que nem mesmo identificamos o que temos, choramos e rimos alternadamente ou até em conjunto, parecemos não nos conhecer ou saber manifestar o que queremos dizer.

Infelizmente é frequente as vezes que nos reprimimos, talvez de forma até inconsciente. Tudo isso por medo de mostrar o que temos, afinal, ninguém gosta de expor suas fragilidades. Em um mundo onde a imparcialidade e o automatismo viraram qualidade essenciais para se sobrepor como o mais capacitado frente aos outros, quem demonstra seus sentimentos é fortemente tarjado como uma pessoa frágil e facilmente alvo de manipulação alheia. Aprendemos a desenvolver um caráter racional e aparentemente forte quando na maioria das vezes estamos afetivamente fadigados, carentes em nossas necessidades mais íntimas e primordiais, as necessidades da alma.

É preciso vencer esse preconceito de mostrar o que se sente. Porém, devemos saber a forma certa de manifestá-la. Isso porque serão poucas pessoas que realmente estarão abertas a nos compreender e acolher, de estar sempre ao nosso lado, a essas pessoas podemos dar o privilégio de chamá-los de verdadeiros amigos. São poucos os que confiamos nossas vidas, mas são em número suficiente para sentirmos nossa alma preenchida, ativa e curada. Quanto as demais pessoas que convivemos, devemos ter a compaixão para podermos acolher, nos mostrarmos abertos às necessidades do outro, e não nos fecharmos em nosso mundinho e vontades particulares.

Muitas vezes a mais intensas formas de expressão se dá no silêncio de um olhar, na troca de calor de um afeto, na força de acolhimento de um gesto. A alma não precisa, necessiariamente, de palavras para se sentir acolhida; mais que tudo ela precisa de alguém que se mostre disposto a fazer-se presente, da maneira que pode, naquele momento que precisamos. Não é necessário muito esforço para vermos que o próximo também precisa de nós. Muitas vezes é apenas questão de direcionar nosso olhar para os lados e para o futuro ao invés de focar apenas em nós mesmos e no passado que ficou para trás. Entender o outro é uma questão de disposição; de ter conciência de que todos temos defeitos, qualidades e desejos que nos tornam únicos, especiais aos nossos olhos. Muitas vezes para nos conhecermos primeiro precisamos chegar no outro, porque esse sentido de solidariedade também nos completa, nos faz mais fortes pois sabemos que sempre teremos alguém com quem podemos compartilhar nossos medos e alegrias, podemos nos confessar e pedir conselhos.

Talvez nunca conseguiremos expressar a intensidade do que sentimos. Mas mesmo diante dessas limitações ainda podemos trasmitir o que nos é próprio à outras pessoas e estar disposto também a conhecer o que os elas têm a nos ensinar e mostrar. Tudo isso nos constrói e consola... compartilhar faz-nos mais firmes para continuar caminhando.

Que sejamos sábios o suficiente para estarmos abertos ao mundo e as pessoas que nos rodeiam, para nos conhecermos e não nos repreendermos pelos nossos medos, pela nossa carapaça de auto-suficiência e força.

Um abraço a todos!!!!!!! Um ótimo final de semana...Bjus.... A Pequenininha...