O pior sonho da minha vida
“O que não me mata me fortalece!” _ Friedrich Nietzsche
Estava passando quando vi um vulto conhecido em meio a tantas pessoas. Era mais que conhecido, era idêntico ao meu pai falecido há três anos. Em sonhos anteriores, neste na forma de lembranças, percebi que já havia visto este rosto perdido em meio há tantos e que me batia uma angústia e curiosidade sobre quem era aquela pessoa. Resolvi segui-la e, percebendo a perseguição, ela fugia de mim. Fui mais rápida, alcancei e a fechei; dei de cara com um rosto cansado e assustado, idêntico ao do meu pai.
Perguntei: “Quem é você?” Ele se esquivava, olhava para os lados analisando alguma alternativa de escapar, vendo que era impossível vomitou sua verdade_ '”Sou seu pai!”. Mas como?_ perguntava eu transtornada_ Impossível! Eu vi meu pai morrer e ser enterrado! Ele com seu ar arrogante disse: “ Você me seguiu, quer a verdade? Eu realmente estava doente, tive câncer. Mas não aguentava aquela realidade, aquela família! Então fugi, coloquei um morto no meu lugar para o velório e fui curtir a vida longe de vocês! Lá consegui me curar, não voltei ao normal de todo (realmente tinha a aparência mais cansada e magra) mas fiquei vivo para aproveitar a vida. Aqui estou, e agora que você me descobriu isso não pode ficar assim! Vou tomar o lugar que era meu, vou voltar pra casa!”.
Ele tinha aquele olhar que acompanhou a minha criação, o olhar que eu sempre tive medo que voltasse e que eu pensei estar sepultado; mas ele voltou. Eu fiquei indignada pela forma que ele mentiu e nos abandonou, pela falta de consideração, e por querer voltar depois de tantos anos, depois de tudo o que aconteceu, e ainda querer mandar. Mas assim ele o fez!
O que se seguiu no sonho foi uma cena em casa em que ele esbravejava, como nos velhos tempos: “Essa casa é minha, sempre foi minha!”. E eu batia de frente com ele, também como nos velhos tempos: ”Você acha que tudo continuaria o mesmo depois destes anos, que nada mudou, que íamos continuar obedecendo aos seus desmandos? Você não manda em nada!”. Ele, com ar furioso não hesitou em atirar uma chave tirada da sua caixa de ferramentas diretamente em mim, quase acertando a minha cabeça. Minha mãe e irmão assistiam a tudo, mas sem fazer nada, apenas atônitos. Irada por quase ter me machucado de forma grave eu esbravejei: ”Você está morto! Mesmo que vivo pra mim você está MORTO!”.
Ele, então, veio pra cima de mim com toda sua fúria para me bater. Era nítida a fúria em seus olhos vermelhos! Ele foi correndo em minha direção e não tive tempo pra pensar direito; com a chave que ele me atirou eu peguei e joguei em cheio nos testículos dele. Ele caiu sobre o carro com o golpe, mas já ia se levantando pra me atacar novamente. Sabia que se não reagisse ia apanhar feio, e tudo ia continuar como era antes. Peguei a chave no chão e, então, fui acertá-lo com força na cabeça. Não sei a intensidade do golpe, mas talvez fosse para matá-lo. Não sei se foi o suficiente para isto, mas pelo menos matou ao meu sonho! Acordei, chorando!
Foi tudo tão real, tão intenso! Doía muito por dentro! A possibilidade de aquilo ser real, ou de que um dia foi real, gerava uma compulsão de sentimentos que me arrasou na manhã daquele dia tranquilo. Por um bom tempo não conseguia fazer mais nada que não fosse chorar, colocar pra fora a dor e a lembrança do sonho. O dia seguiu triste… então rezei para procurar o consolo que precisava para mim e para a alma de pai.
É nítido que ainda não consegui superar muitas coisas em minha vida. Eu praticamente bloquei muitas das minhas lembranças e dificilmente falo a respeito. Vocês não sabem o que é uma dor… mas uma dor tão intensa que não existe remédio que cure, que mais fácil seria se fosse sentida na carne! É a lembrança dessas dores que tenho tentado superar, mesmo após muitos anos; porque querendo ou não foram anos da minha vida, minha história!
Pai me desculpe, mas não sei direito o que sentir e pensar. Meus sonhos com você nunca são bons e esta é uma coisa que não sei interpretar direito o por quê. É tudo muito difícil pra mim… Mas você é meu pai, e quando estou na missa rezo por você.
Que eu possa entender meus sonhos, e superar minhas lembranças!
A Pequenininha
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