Uma crônica sobre o 'Poder'
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Legado - Scalene |
‘Aquele que obedece por algo em troca, é um mercenário;/Quem
obedece por medo, é um escravo;/ Mais o que obedece por amor, esse sim é o filho.’
Eu escutei essas palavras na adolescência, ditas por
um amigo em uma pregação religiosa, e nunca as esqueci. O tema, creio eu, era o
de servir e estar em Deus (todo-poderoso) como filhos Dele. Naquela época, eu
tinha uma visão bem menos talhada sobre essas palavras; tempos em que minha
mente ainda não tinha tanta consciência das malícias desse mundo. Mas o tempo passou
e as palavras ficaram. Era de serviço que meu amigo falava, mas hoje eu penso
muito sobre a outra ponta: as relações de poder e liderança.
E sem querer entrar no mérito religioso, mas tomando a
bíblia como exemplo, a figura de Jesus é admirável no que diz respeito a poder
e sabedoria de liderança. Ele escolheu homens a dedo, de sua confiança, e,
ainda que inicialmente crus, confiou a eles o seu trabalho missionário. Jesus teve
a paciência de educar, de formar cada um dos seus, e de se dispor integralmente
por sua causa. Ele se colocou entre os pequenos para ensinar os pequenos, mas
também soube lidar com grandes líderes da época sem diminuir-se ou diminuí-los.
Jesus soube ser compassivo para educar as falhas, mas também enérgico quando a
situação pedia ordem. Devido a esses e tantos outros marcos, Jesus tem seu nome
lembrado até hoje porque soube exercer o seu poder e liderar uma massa, até então esquecida, com amor; proporcionando a eles não só esperança, mas uma nova
perspectiva de vida.
Quando penso na imagem de Jesus penso que ninguém o
obedeceu por moedas, ou sob ameaças, ou desejando obter certa influência
política. Seus discípulos o obedeciam porque acreditavam em suas palavras e
porque viam no exemplo dele uma maneira inspiradora e melhor de viverem a vida.
Isso pra mim é a figura de um líder no mais alto escalão da história!
E citar Jesus como exemplo de liderança parece ser algo
tão distante e extraordinário que por vezes soa como inatingível, quando na
verdade não é! Todos nós exercemos alguma posição de poder em maior ou menor
grau em algum momento de nossas vidas. Para além da chefia óbvia presente nas
relações de trabalho, temos as relações de poder política, poder midiático que
formam opiniões, o poder na sua formação acadêmica e propriedade de fala, a
influência que possuímos diante de nossos amigos, em nossa família, as relações
de pais para filhos, irmãos mais velhos perante os mais novos, e até o poder e
independência que você tem sobre você mesmo e suas escolhas.
A forma como escolhemos liderar e exercer o nosso
poder quando isso nos é exigido é reflexo direto de nossa formação, de como
aprendemos a nos relacionar e a enxergar o outro. Um bom líder nasce muito
antes das relações de poder e hierarquia. Quando sabemos respeitar e estamos
abertos a compreender e aprender com o outro, independentemente da nossa
posição, consequentemente sabemos aplicar isso de maneira muito mais sábia e
coerente em uma posição de dominância. Ser líder não é sobre subjugar, é sobre
inspirar; não é sobre superiores acima dos inferiores, mas sim como formar e integrar
uma equipe forte; não é sobre o status que você alcançou, mas a forma como você
gostaria de ser lembrado.
Enfim, liderança não é sobre o caminho que você
trilhou para adquirir determinada posição, mas sim como você se põe a serviço.
Poder não diz tanto a respeito do que se tem, mas sim como você decide ser e agir diante
daquilo que se tem. Do contrário, você é apenas um mecenas, um ditador, uma
pobre de alma em uma posição conveniente. É uma condição de poder que não
cativa, que não agrega e, convenhamos, não lidera. Uma posição tão frágil
quanto o próprio ego de quem a possuí, cercada de medos e desconfianças.
Hoje trago essa reflexão para mim, para a minha
realidade e das pessoas ao meu redor. Quem sabe, ainda que de forma imperfeita,
eu consiga estender essa reflexão a vocês.
Que tipo de líder você escolheu ser?
A Pequenininha
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