Um namoro de 12 dias – parte 2/3 – O abuso



Era o último dia do ano e eu não tinha expectativas de passar o Réveillon em nenhum lugar. Meu namoro no seu 12º dia já se encontrava abalado pela falta de diálogo, pensamentos machistas e retrógrados da parte dele e insistência de uma abertura e busca de uma maior intimidade da minha parte. Resolvemos que na virada cada um passaria com a sua família, mas que nos encontraríamos antes para ter o nosso momento juntos. Já era um sinal de que não estávamos em sintonia, mas queria fazer uma última tentativa na esperança de conseguir aproveitar ele. Queria um momento de intimidade bacana e poder mostrar para ele que existem diferentes formas de aproveitar o outro; enfim, queria explorar toda a nossa afetividade e sexualidade em um momento de troca de carinho e intimidade.

Neste dia eu estava linda! Fiz uma maquiagem delicada, usei pela primeira vez uma lingerie toda em renda verde água que, dependendo do ponto de vista, mostrava delicadamente a curva do meu seio, passei o perfume que amo e o que ele mais gostava. Estava me sentindo confiante, linda e poderosa! A minha ideia inicial era de fazer algo em casa; uma comida caseira, um filme, algo bem intimista, coisa que ele recusou relutantemente e acabamos seguindo a sua sugestão de ir a um barzinho.

No caminho tentei utilizar todo o meu ‘sex appeal’ para ver se ele demonstrava interesse em termos algo. De fato, meu canal vaginal ainda estava machucado pelas investidas sexuais anteriores e a penetração não era viável, porém poderíamos aproveitar de outras mil e uma formas um ao outro! Ele era relutante: não queria que eu o provocasse se não pudéssemos fazer sexo, e sexo na concepção dele incluía apenas e tão somente o que eu estava limitada de fazer, que era a penetração! Respirei fundo, procurei ser a mais carinhosa possível, tentei lançar umas indiretas para receber alguns beijos em troca, tentei entender o porquê destes pensamentos e tamanha limitação; tudo sem grande sucesso.

Neste ponto já estávamos sentados, sozinhos, em uma mesa de bar e ele repelia qualquer investida minha. Um ex-colega de trabalho dele passou e após uma breve conversa me disse, como que querendo dar uma força ao amigo: ‘Esse aí é pra casar, viu? ’ De fato, essa devia ser a terceira vez que eu havia escutado esta mesma frase de pessoas aleatórias ao se referir sobre ele, o que me fez questionar o que seria um homem ‘para casar’: tradicional, fiel, porém frio e sem abertura? Enquanto ele se voltava novamente para se despedir do meu namorado, refleti comigo mesma e cheguei à conclusão de que se todos os homens ‘para casar’ tivessem estas mesmas características, então ‘para casar’ para mim não servia!

Eu só queria aproveitar o momento, poder namorá-lo, mas tudo que tentava fazer para ele era inapropriado. Era inapropriado beijar em público, era inapropriado conversar assuntos de teor sexual; ele inclusive me repreendeu fortemente quando perguntei sobre quando ele perdeu a virgindade na tentativa de, sei lá, criar uma empatia e explorar esse lado tão reprimido nele. Ele disse que um casal ao lado poderia escutar quando, na verdade, os coitados estavam pouco se lixando para o mundo ao seu redor; justamente como eu queria que nós também ficássemos. Para ele, até o meu sorriso era indecente porque demonstrava que eu queria sexo! E eu queria! Precisava testar se a nossa relação era viável ou se ele era tão machista que eu deveria correr a passos largos! Mas eu sorria para cativá-lo, receber um carinho, porém nada parecia funcionar. Vocês podem pensar que eu considerei apenas a questão sexual para definir o futuro da nossa relação. Mas entendam que, neste curto período de vivência, este foi o nosso problema principal que trazia consigo, de forma implícita, questões muito mais profundas e graves, como o respeito, a liberdade, a empatia, a reciprocidade e a vontade de fazer o outro feliz dentro da relação.

Era final da tarde, logo ele teria que ir para a festa de ano novo da família e eu mal tinha recebido um beijo decente. Falei que queria dar uma namorada, viemos para casa, mas logo já não estávamos à sós e decidimos ir a um motel. Pensei que ele havia entendido o que estava propondo, o de aproveitarmos e termos uma intimidade, mas sem o sexo vaginal, para não me machucar mais. Foi quando a tragédia aconteceu!

Ao passar pela porta do motel foi como se ele tivesse se transformado em outra pessoa! Ele já veio de forma um tanto quanto agressiva e me jogou na cama, já subindo sobre mim. Pedi para irmos com calma, me levantei, queria aproveitar cada toque. Mas ele foi tirando minha lingerie bruscamente e me deitando novamente na cama, forçando uma penetração. Falei para irmos com calma, que estava machucada, que eu poderia fazer oral nele ou ele em mim. Ele retrucou dizendo que não gostava de oral e não queria fazer, e que se eu fizesse nele ele não ia querer me beijar após. Achei aquilo um absurdo! Como uma pessoa quer fazer sexo se tem nojo de saliva, suor, de qualquer troca de fluidos? A todo momento eu tentava reverter a situação enquanto ele parecia não me escutar e forçava uma penetração que nitidamente não queria! Aquilo foi machucando meu corpo, mas, especialmente, meu emocional. Eu tentei reverter e não conseguia. Lembro de ter olhado para o seu rosto sobre mim enquanto me penetrava e pensado: ‘Este é o rosto do diabo!’ E na tentativa de que aquilo acabasse o quanto antes forcei um orgasmo, nem sei exatamente se gozei, para que ele saísse de cima de mim!

E ele saiu, se vestiu e pediu para que eu me vestisse porque ele precisaria levar sua família para o ano novo na roça e os mesmos já estavam ligando incansavelmente para ele. Eu fiquei imóvel, sem reação! Eu não sabia o que pensar, o que sentir! Tinha plena consciência de que o que tinha acabado de acontecer era um abuso sexual! Me sentia suja, com vergonha, acuada, triste, enojada, paralisada, uma mistura de sentimentos ruins que é difícil explicar! Por que ele não me escutou? Por que ele não quis aproveitar de outra forma e entendeu que eu estava machucada? Existiam inúmeras formas de aproveitarmos naquele motel e ele infringiu a única regra que não podia, por que? Por que? Por que? Me senti culpada porque eu o tinha o provocado, eu queria ter um momento de intimidade, mas não pensei que ele seria tão agressivo e que não me respeitaria da forma que ocorreu!

Fui para o banheiro e chorei. Queria arrancar a pele do meu corpo! Sentia nojo, repulsa! Saí e fiquei sem palavras, me vesti. Ele viu a minha tristeza nítida e disse que a culpa era minha, que ele não queria fazer sexo mas que eu o provoquei. Eu disse que eu queria aproveitá-lo de outras formas, mas que ele não me escutou, não respeitou as minhas limitações. Não adiantava eu continuar falando, nem estava com forças para tal, ele não me entenderia! Sentia meu canal vaginal irritado, ardendo, mas o que mais me incomodava era o vazio que sentia, uma dor profunda no peito que parecia não querer ir embora. ‘Vamos, vou te levar em casa’, ele disse. E eu fui. Chorava em silêncio enquanto subia no carro, ao passar pelos postes iluminados das ruas vazias e escuras e ao chegar em casa. ‘Por que? Por que? ’, me torturava internamente. Então ele me deixou na porta de casa e saiu. Enxuguei minhas lágrimas e pensei: ‘Minha mãe não pode me ver assim, tenho que fazer uma bonita ceia de ano novo para a gente! '


A Pequenininha

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