Antes de dormir

ao seu lado

Muitas pessoas possuem os seus rituais antes de dormir; uns rezam, outros dão boa noite, verificam se o alarme está ligado mesmo sabendo que está, olham as horas para saber quantas horas terá de sono, emparelham os chinelos, etc. Comigo não seria diferente! Eu possuo algumas destas manias que citei acima, mas algumas outras que devem ser incomuns para a maioria das pessoas, mas que me compraz muito realizá-las.

Desde muito tempo atrás, talvez desde o início de minha adolescência, eu deito e procuro imaginar coisas que eu quero pra mim e lembrar daquilo que já me aconteceu e me marcou. Deito-me e olho para o lado, imagino que ali está alguém, meu companheiro, eu olho nos olhos dele e desejo-lhe boa noite e ele me responde de volta. Fecho os olhos e imagino o que já vivi de marcante ou gostaria de viver ao lado de alguém, e assim se passa minutos, ou até mesmo horas, até que o sono me arrebate. Todos os dias o mesmo ritual! Talvez seja uma forma de consolar meu coração, de cultivar a esperança e criar uma perspectiva de que pensando em coisas boas eu talvez consiga atraí-las para mim.

As lembranças marcantes geralmente são diariamente lembradas, os rostos imaginados podem variar conforme o momento, e o sentimento que isso gera pode ser mais ou menos intenso de acordo a fase da minha vida. Isso é estranho porque parei pra pensar que todo o meu consolo afetivo é construído dentro da minha própria mente, em minha imaginação. Querendo ou não eu acabei criando um artifício para satisfazer superficialmente minha própria carência e criando um meio de não me sentir tão só.

Outro artificio menos comum, mas que me ajuda em alguns momentos, é imaginar o apoio de alguém quando estou exausta e preciso continuar em alguma atividade. Quando meus pés caminham arrastados sem meu total controle, minha mente está exausta, o dia foi difícil e ainda mal resolvi metade dos problemas que tenho; quando a situação está preta pro meu lado e eu penso em desistir imagino que alguém está lá, do meu lado, e me incentiva a continuar. ‘Mas estou tão cansada…’ ‘Não desista, acredito que você resolve isso fácil.’ ‘Mas não quero resolver nada, só quero dormir, fugir, ter outra vida, sei lá…’ ‘Fica tranquila, estou aqui do seu lado de dando força, apenas continue lutando!’. E assim imagino um sorriso, um aperto sobre nossas mãos dadas, um beijo na cabeça e que, enquanto caminho sem força e sem querer, ele caminha ao meu lado com firmeza, me doando um pouco desta confiança. Sei que isso é imaginário, não sou louca, mas o que poderia fazer? Que outra ferramenta possuo? Encontrei consolo dessa forma e muitas vezes é o único alento que possuo no momento; quem poderia me recriminar por isso?!

Às vezes tento compreender até que ponto consigo ser tão independente e até que ponto nada que eu faça conseguirá suprir o que só alguém poderá fazer na minha vida. Ainda não delimitei bem estes limites, vou me conhecendo neste processo. Talvez o que eu faço nem deve ser muito saudável ou psicologicamente indicado, mas é o caminho que eu encontrei para me livrar da exaustão de ter que lidar com uma vida demasiadamente dinâmica, independente e cheia de falhas no campo pessoal psico-afetivo.

Sei também que a companhia de alguém não torna a vida perfeita, nem sempre consoladora e amorosa. Teríamos problemas, talvez vivêssemos em realidades distintas que tentam se sincronizar para que um entenda o outro, e talvez nada do que eu espero aconteça e sua presença poderia me trazer ainda mais problemas e vazio. Mas jamais poderei saber se não tentar, se não acontecer. Ele teria problemas assim como eu e eles seriam divididos, uma dor compartilhada; mas, quanto às alegrias, essas sim poderiam ser somadas. Acho que isso consegue tornar a vida mais leve, mais bem vivida para quem consegue achar alguém assim.

Mas enquanto não acho dou ‘boa noite’ para rostos imaginários, confio nas palavras não ditas de meu companheiro nos momentos de forte cansaço e vou dormir na esperança de que meus sonhos ao lado de alguém, que já parecem super reais, se tornem concretos. Quem sabe um dia… um dia…

Bjus… A Pequenininha

Ps: Revelando mais coisas ao blog que às minhas amigas de infância (olha que responsabilidade)… Bom que elas também leem os textos, então acho que fica de boa. rsrsrs…

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