...No fellings...

homem_robo1

“É muito difícil lidar com as tribulações de nosso interior, os incômodos de nossa existência... para muitos é mais fácil lidar com a ausência de sentimentos do que com a presença destes.”

Dizem que nosso coração nunca fica vazio. De certo modo isso é verdade porque somos dotados de alma e razão, dois pilastes que movem continuamente nossas decisões e nos instigam a agir continuamente em diferentes situações. Mas podemos nos deixar de lado e, por medo ou displicência, esquecermos de nos manifestar através de nossos sentidos e anseios; nos deixando morrer por dentro.

Existem momentos em que tudo se torna mecânico demais, automático demais... nos acostumamos com nossos incômodos, nossas ausências, e essa necessidade de expressão e captação de sentimentos fica de certa forma reprimida, mostrando-se quase desnecessária. Não é questão de não sentir; somos apenas displicentes conosco mesmos, nos deixamos de lado e, muitas vezes, pensamos até que sentir demais ou manifestar isso de forma muito solta é sinônimo de fraqueza e insegurança.

Não devemos ser um livro aberto, escancarado ao conhecimento público. Devemos ter os nossos segredos e mistérios. Nem todas as pessoas estarão dispostas e abertas a guardar nossos segredos e entender nossas ideias, e por isso podem nos julgar muito mal. Devemos ser seletivos ao nos abrirmos com as pessoas, revelar nossa intimidade somente para aqueles que nos são realmente próximos, semelhantes e seguros. Isso não é certeza de que elas sempre nos entenderão ou nunca nos decepcionarão; mas é uma segurança maior de que estamos nos resguardando de maiores perigos e de que podemos contar com outros para nos auxiliarem, pessoas que nos formam e confortam em diferentes situações da vida.

Estar sem sentimentos é se deixar dominar pelo medo de se envolver, de se mostrar tal como somos ou estamos. É pensar que os compromissos do dia-a-dia vão suprir nossas necessidades emocionais, a falta de amadurecimento e compromisso nos relacionamentos. Permanecer sem sentimentos é viver o momento sem captar o aprendizado que ele nos proporciona. É estar de corpo presente, e apenas o corpo, pois a alma já se perdeu há tempos por um incrível auto descaso; tudo uma questão de escolha própria.

Tal como a lepra, não damos o devido valor aos sinais que este mal nos provoca. Tudo se manifesta aos poucos: é uma pequena tristeza no final do dia, a falta de cultivo de um relacionamento, é o eterno compromisso com apenas nosso trabalho e estudo, com o cultivo de nosso ego. Estas são apenas algumas das pequenas manchas que nos aparecem. E tudo isso parece aparentemente não nos incomodar, pois são coisas tão pequenas que muitas vezes passamos despercebidos, sem dar a devida atenção e cuidado a estes problemas.

Mas o acúmulo destes males e a falta de cuidado do nosso interior faz com que nos esvaziemos e aos poucos nos tornemos frívolos, insensíveis ao mundo ao nosso redor. Isso nos vai remoendo de dentro pra fora e quando nos deparamos com a incrível falta de cuidado conosco mesmos já é tarde demais para algum tratamento. E talvez o mal maior nem venha dos problemas em si, mas, tal como a lepra, seja pela nossa reação frente aos diferentes problemas. Como não cultivamos afeições não sabemos lidar quando uma situação adversa nos aparece ou não damos o devido valor para as pessoas e coisas que nos são realmente importantes na vida.

Superar este esvaziamento requer, necessariamente, o desenvolvimento de nossos afetos. É não ter medo de se envolver e de aprender dentro destes relacionamentos. Mais que teoria devemos vivenciar nossos sentimentos e cultivá-los de maneira saudável, nos reavaliar constantemente. É preciso um ‘cheque up’ da alma; saber se o que vivemos hoje é realmente construtivo e se estamos realmente sabendo lidar com nossos medos, carências e compromissos.

Que não nos fechemos em nosso mundinho particular com todos os seus problemas, anceios e inseguranças. Que possamos seguramente nos abrir mais, ser sinceros conosco mesmo e com os outros. Entendamos que viver bem requer mais do que um bom desempenho nas nossas buscas pessoais, requer também o cultivo de nossas relações sociais e afetivas. Pois, não podemos esperar que seja tarde demais para percebermos que temos uma vida toda para sermos felizes e nos sentirmos vivos com as coisas simples da vida e as pessoas ao nosso redor.

Abraço a todos... de uma menina que por medo e displicência permanece, por momentos, ausente de si mesma e de seus sentimentos; mas que vê nas pessoas que ama, nas relações que procura cultivar, nas experiências da vida e na maior abertura emocional uma forma de se conhecer e de fazer uma avaliação de seus sentimentos e limitações. De uma pessoa que ainda se fecha e se esconde em demasia, ou por vezes pensa estar ocupada demais para se dedicar à ‘fragilidades’, mas que ao mesmo tempo vê a necessidade de não fugir deste ‘cheque up’ da nossa parte mais frágil, interessante e indispensável; a alma. Bjus... A Pequenininha.

Comentários

Leia também: