Percepções de uma farra

"Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente." - Érico Veríssimo


Preparei-me para estar naquela festa. Estava particularmente bonita, me preocupei de forma especial com minha arrumação e apresentação estética... o que não fazia muita diferença pois era como todos ali.

Diverti-me. Nossa, como me diverti! Dancei, conversei com amigos, fiz coisas diferentes, aproveitei um pouco do meu tempo que andava tão atolado com eternos compromissos. Mas também fiz observações muito interessantes. Nunca o comportamento humano em situações de festas como aquela me pareceu tão evidente, e brutal.

Em alguns momentos me angustiei. Isto aconteceu ao perceber um rapaz que pedia bebidas deliberadamente, sem pensar muito como as pagaria depois. E as pessoas só se aproximavam dele pela ‘bebida grátis’ e pela zoação que ele fazia consigo mesmo. Era triste e degradante todas aquelas pessoas. Todos riam e se divertiam. Eu que estava ali também ria muitas vezes sem entender o motivo certo (só pra acompanhar mesmo). Não bebia o que eles bebiam, não zoava como eles zoavam, mas por alguns momentos me senti como eles e uma tristeza fina me bateu. Observando tudo aquilo pensava comigo mesma: Todos estariam ali se ele não estivesse oferecendo bebidas para a perdição deles mesmos?! Se ele precisasse em algum momento de um amigo verdadeiro, de uma sincera partilha ou conversa de orientação, ou ao menos de uma companhia que o levasse para casa, alguém se ofereceria?! Recordava-me muito a imagem de meu pai nisto tudo, mas não quero explorar estes aspectos pessoais aqui.

Não pude deixar de notar também como as pessoas se comportam se tratando destas coisas de ‘azaração’. É meio que animal como as coisas ocorrem. Há pouca ou nenhuma conversa, a atração se dá basicamente pelo físico e não vá esperando encontrar ali um amor pra vida toda ou uma pessoa comportada e certinha porque isso é ilusão de menina (o) besta. Biologicamente falando, o processo de conquista é muito parecido com o ritual de acasalamento dos pavões: os machos mostram sua beleza física e virilidade, as fêmeas desfilam seu potencial feminino e seu aparente ‘poder de escolha’, ocorre um momento de maior intimidade e depois cada um vai para o seu canto sem muito compromisso com o próximo.

Nestas situações satisfazemos somente nossos próprios anseios sem preocupar com o que seqüestramos do outro ou com os pedaços de nós mesmos que deixamos por aí. Sinto que não nos damos o devido valor nestas situações: muitas vezes não respeitamos nossos limites, não medimos conseqüências e não é difícil encontrar, nestes casos, pessoas vazias de sentido para a vida e de si mesmas por se perderem tanto; ou por deixarem seus pedacinhos de vida perdidos por aí sem a percepção de que tudo passa e que ainda nada anda sendo construído como objetivo de vida, como construto da alma.

Não descrimino as escolhas destas pessoas, é a maneira que elas optaram para curtir seus momentos e elas são livres para isso. Mas tendo consciência das coisas que citei acima não sei se seria capaz de adotar o mesmo estilo, pelo menos não antes de abrir mão de muito de mim mesmo e do que aprendi em prol deste estilo de vida que é tão disseminado atualmente pela sociedade. Aconselharia, então, aproveitar os momentos e não viver em função deles. A aproveitar o mundo sem se inundar com as coisas do mundo; não permitir se perder e de maneira alguma incentivar os outros ao mesmo, jamais fugir dos princípios que nos completam e trazem a verdadeira felicidade (aquela que não é somente momentânea).

Nestas festas o povo bebe demais, fuma demais, fica demais, dança demais... é muito intenso e eufórico, porém frívolo e rápido. Eu aproveitei o momento. Creio que soube aproveitar da maneira adequada e por isso não descarto a possibilidade de sair novamente. Mas creio que é preciso bastante discernimento e decisão sobre uma série de coisas que nos ocorrem e que muitas vezes sequer percebemos, ou somos indiferentes, sem se dar conta de como aquilo nos afeta.

Temos a graça do livre arbítrio para decidir nossos destinos e juntamente com isso a responsabilidade de saber lidar com nossas vidas. Que não fujamos de nós mesmos em prol de um anseio coletivo. Que saibamos nos respeitar e nos amar e sejamos decididos em nossas projeções de vida de forma que estas sejam saudáveis e frutíferas.


Um grande abraço a todos. De uma jovem que escreve como se fosse a sua mãe dando aconselhamentos sobre a vida e o mundo. Mas que acredita, pelo próprio testemunho de vida, que isto é importante o suficiente para ser levada em consideração, forma de reflexão ou simplismente como escolha de vida a ser compartilhado com os demais. Bjus... A Pequenininha...

Comentários

Joicy Xavier disse…
Humm muito pertinente o post A pequenininha! Continue assim... Sou fã das coisas que vc escreve! rsrs
Bjim

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