A concha


Estou cansada de viver tantas histórias mirabolantes! Eu não quero que minha vida seja um enredo de uma novela onde protagonizo aquela donzela com um puto potencial, mas com ’azar no amor’. Não quero ser mocinha, nem vilã, nem tampouco ter um roteiro baseado em tramas intensas e traumáticas que findam quando um príncipe encantado surge, do nada, no último capítulo para solucionar todos os problemas. Eu sequer acredito nessas histórias!

Eu não quero uma vida complicada com um final talvez feliz. Eu quero poder desfrutar de cada momento com calma, com amor. Eu quero ter a sorte de um amor tranquilo, leve e diário que apazigue a minha alma e para quem eu também possa ser refúgio. É isso que mereço!

Mas hoje estou cansada. Cansada de dizer mais uma vez onde trabalho, o que gosto de fazer em meu tempo livre, há quanto tempo moro na minha atual cidade, se meu sotaque é realmente mineiro... Eu nem tenho mais criatividade para responder isso de forma irreverente e tentar ser um pouco mais leve sem parecer a 634° entrevista de emprego!

E assim os nomes se acumulam... Nem faço questão de lembrar mais. O André, o José, o Adrian, o Joaquim, o Bernardo, o Lucas... Não vale a pena! Logo a conversa esfriará e cairá no clichê do natural distanciamento até que, na semana seguinte, entrará em cena um novo nome com as mesmas perguntas que cairá no clichê do natural distanciamento, e então terá a semana seguinte, e a seguinte e a seguinte e... voilà, logo você terá uma montanha de nomes na sua agenda com conversas breves, frias e superficiais que não significam nada além de... ahhhh (respiração profunda) ... nada!

E no final das contas o que realmente importa não é a lista de quantos caras você conversa na semana (talvez você até use isso para se gabar de algo que, convenhamos, não tem do que ser gabado), ou com quantos você saiu ou por quantos tropeços sentimentais, histórias inusitadas e homens ridiculamente inacreditáveis já passaram na sua vida nos últimos tempos. Nada disso é, de fato, relevante! Talvez possa parecer interessante, e por um lado até engraçado, se contado em uma mesa de bar. Mas, de verdade, é algo extremamente exaustivo de ser vivido diariamente!

Não há nada melhor que um amor sereno e constante: um 'bom dia', ‘boa tarde', 'boa noite’ ditos com carinho, um 'como você está?' demonstrando todo o zelo de quem realmente se importa. Não há nada melhor que o quentinho de um abraço e a segurança de saber que você tem alguém com quem contar, que você tem um amor para amar e ser amada, que ali existe reciprocidade!

Mas aí eu me lembro que, mesmo quando eu achava que tinha ‘alguém’, eu não tinha ninguém, e isso é triste! Seria esse um mal moderno coletivo? As pessoas estão, de fato, egoístas demais, frias demais, rasas demais para somente sequestrarem migalhas do que elas acham que é amor e depois se fecharem em suas conchinhas seguras de traumas e carências?!

Não sei. Também já não gasto muito tempo pensando sobre. Da mesma forma que não gasto tempo lembrando o nome dos boys ou tentando imaginar um futuro 'mais bonito' para além desse loop infinito de contatinhos.

Hoje só estou cansada e digo isso com toda a sinceridade do meu coração! Não quero mais um nome em minha agenda, mais uma história louca ou mais uma conversa automática. Quero uma concha desnuda e um peito que não tenha receio de se doar e também de ser acolhido. Quero alguém que se mostre tal como é, e que me aceite tal como sou, e que possamos crescer juntos em nossas vivências e intimidade. Quero um dia poder sair da minha concha, a minha maldita concha!

 

A Pequenininha

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