Como um flash
Ela estava ali, sorridente e
brincalhona como sempre. Era surpreendente como ela se destacava das demais
ainda que não fosse muito de querer chamar a atenção. Para mim, era a única
coisa que me transparecia leveza em meio a tantas coisas martirizantes naquela
faculdade.
– Será que sabe do meu interesse
nela? Será que ao menos uma vez ela já me desejou como eu a desejo perto de mim?
– Pensei comigo, distraído, enquanto vinha de encontro a ela junto com o meu
amigo.
Leandro era o nosso amigo em
comum. Por meio dele acabamos tendo mais contato e criando uma espécie de
amizade. Entre uma conversa e outra de corredor ia também descobrindo mais
sobre ela: gostos semelhantes de músicas e filmes, críticas ácidas, e até
defeitos em comum. – Ou será apenas a cabeça de um homem envolvido querendo
encontrar coincidências? – Conspirava contra mim mesmo para tentar tirar, em
vão, ela da minha cabeça.
Mas ela vinha tão doce,
inteligente e estranhamente maliciosa que a bagunça que ela era parecia
provocar um leve desarranjo nas minhas estruturas. É difícil descrever a
Sabrina só com essas palavras. Quanto mais a conhecia, mais tinha a curiosidade
de conhecê-la. Ela tinha um sorriso leve e aberto, mas um olhar penetrante e
por vezes triste e contemplativo. As suas camadas por ora me encantavam, por
ora me assustavam e por ora me impressionavam. Ela era uma mulher completa e
nunca desejei tanto essa complexidade e completude para mim!
– Posso te perguntar algo? –
interrompi a interlocução dela e do meu amigo sobre algum assunto aleatório
para fazer uma pergunta que há muito me consumia e que me tomava de curiosidade.
– Se eu puder responder? – ela me
respondeu com um sorriso bem provocativo, como que se sentindo desafiada. E
voltou-se para mim, desviando toda a sua atenção para a minha pessoa.
Era o que eu queria, mas ao mesmo
tempo me vi completamente ansioso! A frase já previamente pensada e ensaiada
parecia entalada na garganta. As pernas, por um segundo, chamaram o meu coração
de burro e inconsequente e pareciam não querer compactuar com aquilo. Elas desejaram,
por um milésimo de segundo, correr para longe dali! Mas, por outro lado, a
coragem pareceu adentrar junto a um gole seco de saliva e a pergunta finalmente
saiu:
– Sah, vi um texto seu ontem. –
respirei fundo mais uma vez e tomei coragem – Aqueles contos que você escreve...
bem... eles são baseados em fatos reais?
Uffa! Quase que não saia, mas
foi! Respirei fundo, mas me mantive firme para não demostrar o meu nervosismo.
Dei um leve sorriso, que demonstrava uma mistura de constrangimento com um
dedinho de cara de pau. E ali fiquei, aguardando ansioso a sua resposta.
E ela riu. Riu alto, rio solta!
Rio de uma forma que me deixou ainda mais constrangido, mas que, ao mesmo
tempo, demonstrava um terreno seguro onde eu sentia que ela estava à vontade. Acho que ela riu de propósito, como
se já esperasse a pergunta ou como se não fosse a primeira pessoa que a fizesse.
Ou talvez só estava rindo da aleatoriedade da situação.
Só sei que ela passou um tempo
presa em seu riso, o que me fez relaxar um pouco e também rir. Mas gradativamente
o seu riso foi diminuindo até que ela se voltasse pra mim, agora séria, para
responder à pergunta. E o seu o olhar parecia me cortar como uma flecha. Acho
que pude finalmente encontrar a personificação do olhar de cigana oblíqua e
dissimulada descrito por Machado de Assis: era envolvente, profundo, e carregava consigo um ar de mistério provocativo.
Ela, então, me olhou diretamente,
e com um sorriso de canto de boca me respondeu:
– Depende. O que você acha, ou
gostaria, que fosse real?
Aquela resposta me paralisou por
um instante. Não esperava que ela me respondesse com outra pergunta ou que me
fizesse refletir ainda mais sobre isso. Mas senti nas suas palavras uma certa
abertura que me impulsionou a um ato de coragem nunca antes imaginado por mim! Foi
quando ergui a minha mão e ousei acariciar os seus longos cabelos ondulados,
deslizando os meus dedos sobre eles até tocar o seu delicado rosto e repousar
os meus dedos sobre o seu queixo pequeno e redondo. Logo em seguida respondi,
olhando-a nos olhos:
– Eu gostaria de, em pelo menos
algum momento, estar neles!
Ela então encostou a sua mão
sobre a minha, respirou-a, beijou-a. Em seguida, enquanto permanecia me olhando
nos olhos, segurou com as duas mãos a minha que estava sobre o seu rosto e trouxe-a
para junto do meu peito, como que me incitando a sentir o pulsar do meu próprio
coração que, a essa altura, palpitava desenfreadamente. Senti-o. E me
concentrar, ainda que brevemente, naquela batida alta e ritmada me ajudou a
voltar a respirar apropriadamente. Fiquei surpreso comigo mesmo e com ela, e confesso
que um pouco sem reação. Definitivamente, aquela situação fugia totalmente dos
meus cenários ensaios ao seu lado.
Ao voltar novamente o meu olhar
para ela, sinto-a se aproximar mais de mim. Com o seu corpo colado junto ao meu
e segurando uma das minhas mãos, ela se inclina levemente em direção ao meu
ouvido e sussurra:
– Então seja a minha próxima
inspiração... Quem sabe... a minha próxima expiração!
Nesse momento uma corrente de
eletricidade percorreu todo o meu corpo e uma mistura de nervosismo com
excitação tomaram conta de mim! Sinto as minhas bochechas queimarem, a minha
respiração se tornar mais profunda, e uma potência que brotava de mim e que me
fez enrijecer prontamente. Nunca me senti tão capaz e tão alerta ao mesmo
tempo! Agora, naquele exato momento, também nunca me senti tão desejoso de tê-la
junto a mim!
– Vem comigo. – Sussurrei em seu
ouvido enquanto que, com o olhar, indiquei para irmos para irmos a um lugar
mais tranquilo, afastado dali.
Ela então sorriu e passou a minha
frente. E foi ela que me conduziu para fora do prédio. E tão pronto estávamos a
sós em um lugar mais discreto ela não hesitou em me dar um beijão, desses de
tirar o fôlego! Eu prontamente correspondi e também a beijei com intensidade,
como sempre desejei fazê-lo!
Não tinha mais volta! Nesse
momento percebi que estava completamente envolvido! E pude finalmente segurar e
sentir o seu cabelo macio enquanto a minha outra mão percorria delicadamente a
sua nuca; massageando-a levemente enquanto nossos corpos se encontravam. Seu
perfume floral me inebriava e parecia traduzir perfeitamente a sua delicadeza
aliada à sua sensualidade potente. E nossas bocas só se separavam para
intercalar com breves sorrisos e trocas de olhares. Já não me
preocupava mais onde estava ou se havia risco de sermos vistos. Naquela
intensidade, naquele momento tão inesperado quanto surpreendente, erámos só eu
e ela!
E enquanto emaranhava os seus
cabelos em minhas mãos, fazia com que ela inclinasse o seu pescoço para trás e,
assim, devorava-a docemente com meus lábios. E seu corpo parecia dançar com o
meu toque, indo no mesmo ritmo do nosso beijo, se encaixando na minha rigidez e
a sentindo cada vez mais junto dela. Ela suspirava por mim e para mim, cada vez
mais ofegante! Como era envolvente o som da sua respiração! Era exatamente como
a imaginava enquanto lia os seus contos. Me senti pleno e
satisfeito em tê-la ali, totalmente entregue, e poder despertar isso nela!
Ela então coloca dois dos meus
dedos em minha própria boca, fazendo com que eu salivasse sobre eles. Em
seguida, os conduz para debaixo da sua saia, fazendo eu sentir a umidade da sua
buceta sobre o tecido de algodão. E sentindo todo o contorno dos seus grandes lábios
e do seu clitóris sobre o fino tecido eu a incitei, a provoquei, e não hesitei
em estimulá-la da forma que a dava mais prazer! E, enquanto a masturbava,
sussurrei no seu ouvido pra que ela gemesse gostoso, mas que não fosse alto o
suficiente para alardar qualquer um que passasse por perto. E pedi para que
gozasse, gozasse deliciosamente enquanto a estimulava! E ela fazia o mesmo comigo...
me sentindo cada vez mais duro, mais firme, saltando pela calça jeans e segurando-o
em um vai e vem delicioso na pressão exata, no mesmo ritmo em que a estimulava.
Estávamos totalmente entregues! Eu
e ela... e movimentos sinuosos... e a respiração ofegante e falha... e as
pernas vacilantes... e o tremor do gozo anunciado... e....
.... E um barulho assombroso me
assola! Acordo assustado, como que em outra dimensão!
– Oi?! Que foi?
Meus amigos começam a rir de mim
e de como eu consegui pegar no sono em plena aula de Cálculo! Só acordei com o
arrastar das carteiras enquanto meus colegas saiam da sala. Fico ainda um pouco
assustado, incrédulo. Coço novamente os olhos, tentando me situar de onde eu
estou e me certificar de que o que tinha acabado de experenciar era apenas um
sonho.
– Oh ‘Zé’, se apruma aí que ainda
temos que buscar o almoço no bandejão! – O meu amigo ri enquanto me dá um
peteleco na cabeça, desgrenhando os meus cabelos que já não estavam lá
alinhados e terminando por me despertar da pior maneira possível!
E assim saio, ainda zonzo,
querendo trocar de realidade e voltar para o meu sonho com ela, vivenciar o nosso
ápice. Então suspiro e penso comigo mesmo:
– Ah... o que eu não faria para
que aquilo fosse real?! – e tentava me prender aos detalhes do sonho e das
sensações experenciadas nele, quase que palpáveis.
E assim segui tão distraído pelo
corredor que, ainda preso às minhas recordações, nem percebi quando ela, de
fato, passou por nós e nos cumprimentou.
Após ter sido ignorada despropositadamente
por mim, ela me direciona a palavra, jocosa, dizendo:
– Ué Gabriel, não vai me
cumprimentar não? Por acaso dormiu comigo, foi?! – ela termina rindo comicamente
enquanto me dá uma leve sacudida no meu ombro.
Eu todo desengonçado e um pouco
envergonhado, acordo para a realidade e me desculpo pela minha displicência.
Ela então me responde, toda desinibida:
– Aí de você se não sobreviver à
Cálculo III, hein? – e sorrindo, continuou – Quero você bem vivo e bem disposto
para a choppada que será na sexta-feira, após a prova!
E assim ela se despediu de mim com uma piscadela e seu ar alegre e contagiante. Eu ainda a acompanhei com o olhar enquanto me recordava do que acabara de experenciar, ainda que em sonho, junto a ela.
– Aí se ela soubesse! – me pego pensando
alto, rindo comigo mesmo.
Como um flash a tomo mais uma vez
em meus pensamentos, como sempre a desejei. Quem sabe um dia eu possa inspirá-la em contos
na qual ela nunca imaginou?
A Pequenininha
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